Se você acompanha discussões por aí sobre DJs, provavelmente já se deparou com comentários do tipo “DJ de verdade toca com vinil!” ou então “Tocar com Controladora Midi é coisa de amador!”.

Seriam esses comentários fundamentados? Qual a origem deles?

Com o passar dos anos, a tecnologia de equipamentos musicais no geral passou por inúmeras mudanças e avanços, trazendo novas ferramentas e possibilidades de se fazer música.

Com os equipamentos dos DJs, não foi diferente.

Desde a chegada dos CDJs na década de 90, alguns DJs que tocavam com vinil criticavam o uso de CDs para a realização de DJ Sets, alegando que aquela forma de tocar seria “fácil demais” ou não teria o mesmo valor do Set feito com os tradicionais toca discos.

Mas afinal, o que é ser um DJ de verdade?

Para mergulhar nessa questão, vamos voltar um pouquinho no tempo.

No fim da década de 50, Osvaldo Pereira foi o primeiro brasileiro a segurar uma pista de dança sem que houvesse uma orquestra tocando música ao vivo.

Naquela época o nome “disc-jockey” ainda estava longe de ser usado, mas o primeiro DJ do Brasil já fazia a pista ferver com sua seleção musical. Detalhe: usando só um toca-discos! Mixer de DJ era algo que ainda não existia na época, impossibilitando a realização de mixagens.

Você pode conferir esta e outras histórias incríveis sobre essa profissão no livro “Todo DJ Já Sambou: A História do Disc-Jóquei no Brasil”, de Claudia Assef. (clique para saber mais)  

 

Osvaldo Pereira, o primeiro DJ do Brasil, tocava com apenas 1 toca-disco na década de 50. Hoje, com 83 anos, ele continua na ativa discotecando por aí!

 

Felizmente a tecnologia evoluiu desde então!

A partir dos anos 70, com a chegada dos agora clássicos toca-discos Technics MK2 e mixers com qualidade profissional, a figura do DJ ganhou espaço nas casas noturnas do Brasil e do mundo.

O avanço tecnológico permitiu a ascensão do profissional DJ, que passou a ter melhores ferramentas de trabalho. Agora, o DJ conseguia construir um set mixando perfeitamente as batidas de duas ou mais músicas. Criou-se uma nova forma de arte!

Durante quase 30 anos, a IDENTIDADE do DJ esteve diretamente associada ao vinil, que era sua principal ferramenta de trabalho.

 

Durante quase 30 anos a figura do DJ esteve diretamente associada ao Vinil.

 

Até que a tecnologia continuou evoluindo e chegaram os CDJs no final dos anos 90…

Opa! Agora deu problema.

Esta nova tecnologia desafiava aquilo que, até então, se acreditava ser um DJ. Poderia, então, um DJ que toca com CD ser considerado um “DJ de verdade”?

Pra piorar a situação: com esta nova tecnologia era muito mais fácil mixar, além de ser mais fácil conseguir montar um set a partir de CDs gravados com músicas baixadas da internet.

Veio, então, uma enxurrada de novos DJs no mercado, desafiando o status quo e ameaçando o espaço consolidado dos DJs mais antigos. Isso, é claro, incomodou muita gente.

No início dos anos 2000, campanhas como “Real DJs Play Vinyl” tentaram, em vão, desencorajar o avanço tecnológico e preservar a posição dos DJs estabelecidos.

Desde então, nada mudou.

Sempre que uma nova tecnologia torna mais fácil a vida de novos DJs, aqueles que já estão há mais tempo no mercado tentam desdenhar a novidade. É quase que uma forma automática de auto-proteção.

Foi assim com a chegada do Pendrive no CDJ-2000, com os laptops na cabine de som, com as controladoras Midi e até com o famigerado botão Sync.

Mas se olharmos com atenção a toda a história da humanidade, podemos facilmente constatar que a evolução tecnológica sempre vence a cultura estabelecida, quer a gente goste, quer não.

Se não fosse assim, ainda estaríamos usando lampiões, enviando cartas, cozinhando em fogão a lenha e andando a cavalo.

Mas o que o PÚBLICO pensa disso tudo?

Esta é uma boa pergunta a se fazer, pois tudo que falamos até aqui é papo de DJ. E o grande “juri” lá fora, quem realmente realmente sustenta a carreira de um artista, é o público.

Existem algumas cenas bem específicas onde onde o turntablism predomina. DJs altamente performáticos tocam com Vinil e o público admira ver a técnica deste tipo de artista.

Fora estes casos em específico, aqui vai a verdade nua e crua (doa a quem doer):

O público que não é DJ não se importa com o equipamento que seus DJs favoritos usam ou deixam de usar.

Na verdade, a maioria das pessoas lá fora nem sabe o que é um CDJ, um Mixer e muito menos o botão Sync. Eles só querem saber de música boa saindo da caixa.

Não acredita? Então faça o seguinte teste…

Vá numa festa e comece a perguntar para as pessoas que não são DJs nem trabalham na cena: “Que equipamentos seu DJ favorito usa para tocar?”. Você ficará abismado como mais de 90% das respostas serão algo do tipo: “Sei lá!”.

Se o grande público achasse que um DJ que toca com vinil é melhor do que quem toca com Pendrive, que é melhor do quem toca com Laptop, Vintage Culture não seria um dos maiores nomes da cena atual.

 

Será que estas milhares de pessoas empolgadas na pista estão ligando que o Vintage Culture toca com Laptop? O DJ usa o software Ableton Live em muitas de suas gigs.

Moral da história

Não importa se você está usando um toca-discos, dois toca-discos, um par de CDJs, uma controladora ou um software digital para tocar. O que importa é sair som bom da caixa!

O que define o que é ou deixa de ser um “DJ de verdade” não é o equipamento que ele usa, mas sim sua capacidade de fazer um incrível set e manter a pista motivada.

O aspecto humano é – e sempre será – mais importante do que o aspecto tecnológico.

Nedu Lopes, tri-campeão Brasileiro e duas vezes vice mundial do campeonato de DJs Redbull Three3style, mitou neste vídeo e post no Facebook:

 

 

Se você é um DJ mais antigo que se sente ameaçado pela enxurrada de novos DJs devido às novas tecnologias, você se sentirá muito melhor quando parar de lutar contra isso. Esta é uma batalha que você não pode vencer. A frustração é certa!

Ao invés disso, pense como você pode sair da zona de conforto e aprimorar seu trabalho, além de engajar seu público e fortalecer seu nome no mercado. O aspecto HUMANO é o que garantirá seu futuro na profissão, não as barreiras tecnológicas (que só tendem a diminuir).

Já se você é um DJ novo que está se beneficiando das novas tecnologias e sofrendo bullying de DJs mais antigos, saiba que não se trata de você. Se trata deles sentirem que tudo o que conquistaram está ameaçado. É normal, de qualquer ser humano, tentar se defender (ou atacar) nestas situações.

Não tome como algo pessoal. Faça seu trabalho e conquiste seu espaço com os recursos que você tem.

No fim das contas, tocar um bom set e saber manter a pista fervendo é o que sempre fará um DJ de verdade. Como disse Nedu Lopes, “nenhum equipamento define um DJ, mas sim o que ele faz com o equipamento”.

E você, o que pensa sobre isso tudo?

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Um grande abraço,
Everson K e Pedro Passoni

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